quinta-feira, 7 de abril de 2016

POR QUE NÃO EXISTEM MAIS GÊNIOS?

*Não leia se for sensível, possui tapas de realidade...


Copiado na íntegra do texto "Descubra Por que os Alunos nas Escolas e os Funcionários nas Empresas Não Estão Nem Aí", por André Camargo Costa

“Os alunos de hoje não são como antigamente” — disse ele, em tom queixoso.
“Verdade” — respondeu ela. “O mais espantoso é que as escolas, as aulas e os professores continuem sendo. ”

As empresas querem funcionários criativos e empreendedores.
A pergunta de um milhão de dólares: Como se ensina alguém a ser empreendedor?
Resposta honesta: Não dá.
É impossível.
Não se ensina empreendedorismo, assim como não se ensina uma planta a crescer. 
O que dá para fazer é reunir as condições necessárias para que a semente se transforme em árvore, atendendo ao misterioso imperativo de seu Ser.
Uma criança saudável não fica parada, apática, aguardando instruções. Bebês e crianças são empreendedores por natureza: curiosos, exploradores, destemidos. Criativos. Transbordam vitalidade.
Aí vem o processo de escolarização.
A gente pega a semente e quer ensinar a ela tudo sobre o solo, a fórmula química da água, a velocidade e as direções do vento, insetos, minhocas e outros bichos.
A gente explica para ela que a terra fofa é melhor que o concreto ou a areia; que o estrume da vaca é melhor que o de cachorro.
Ela precisa saber que existem diferentes tipos de regadores - alguns são de plástico. Aí a gente quer ensinar para ela o que é plástico. Pedimos para ela fazer uma redação sobre o problema do plástico nos oceanos.
A semente se esquece de quem ela é.
Fica desconectada do misterioso Chamado em seu interior, que a impele a desdobrar-se organicamente, a partir de si mesma, para tornar-se o que sempre foi.
Ela agora tem muita coisa para memorizar.
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Vamos olhar para a criança na escola.
Ela tem que prestar atenção no que dizem para ela prestar atenção.
Precisa pedir para ir ao banheiro.
Pedir para falar.
Afinal, ela é apenas mais uma. São muitas iguais a ela para cada educador/a.
Então, antes mesmo do primeiro conteúdo previsto no currículo, precisa compreender que seus sentimentos, desejos, sonhos, talentos e paixões, não vêm ao caso.
Bastará fazer a lição de casa, não falar durante a aula e tirar nota boa na prova.
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Uma criança educada, para nós, brasileiros, significa uma criança obediente, bem-comportada.
Que não dá trabalho.
Já reparou nisso?
A criança que insiste em fazer diferente, do seu jeito, que recusa a conformidade dócil, essa é inadequada. Rebelde.
Hiperativa.
Porque em ambientes disciplinares e hierárquicos como uma escola — ou uma empresa — o que o professor e o patrão esperam, no fundo, é subserviência. E sossego.
Aí, às vezes, a criança rebelde precisa tomar algum remedinho, a fim de aplacar todo aquele empreendedorismo.
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A consciência da própria desimportância é pré-requisito para que a criança se una à massa.
O longo processo de desempoderamento e doutrinação, por sua vez, é necessário para que as pessoas aceitem abrir mão de seus sonhos e projetos de realização em troca de um emprego de bosta com um salário qualquer no final do mês.
Afinal, da perspectiva do desenvolvimento do país, a função principal da educação em massa é abastecer o mercado de trabalho com empregados dóceis.
Ao renunciarem a sua fonte interna de vitalidade, porém funcionários e alunos murcham. Atrofiam. Perdem contato com o que alimenta o Ser.
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Observe agora o paradoxo: se esperamos ser capazes de encarar os desafios e as demandas cada vez mais complexos desse nosso século vinte-e-um, dependemos de pessoas capazes de pensar, atuar e se relacionar de outras maneiras.
Quer dizer, não das mesmas maneiras que nos conduziram aos impasses atuais — como o aquecimento global, as crises migratórias, a insustentável concentração de renda e o terrorismo de grupos e Estados.
Precisamos de desajustados, inconformados e... rebeldes.
As empresas já se deram conta disso: querem contratar o próximo Steve Jobs.
Mas o que temos feito é o contrário: produzimos normose.
A gente silencia os interesses naturais da criança para que se interesse pelo que queremos que ela aprenda. Porque, pela lógica do nosso sistema, todas as crianças da mesma faixa etária têm de aprender as mesmas coisas, do mesmo jeito, no mesmo ritmo e na mesma ordem.
A criança é forçada a silenciar os murmúrios internos, a fim de cumprir o programa e atingir as metas. Precisa ser treinada a calar a própria voz para se submeter à autoridade externa - o professor, o gerente, o supervisor, o padre, o pastor, o policial, o político.
Depois, nos reunimos nas Faculdades de Pedagogia, em sessões solenes, para debatermos por que, afinal, as crianças andam tão apáticas.
Nos departamentos de RH, é a mesma coisa: parece que tudo vai se resolver caso a empresa mobilize fortunas para contratar o palestrante motivacional da hora - ou o guru de auto-ajuda do momento.
Mas a pergunta deveria ser outra: não como fazemos para motivar alunos e funcionários, e sim como paramos de desmotivá-los.
Como preservamos a curiosidade, o interesse, a atitude empreendedora 
de um bebê?
Como criamos ambientes e mobilizamos recursos facilitadores da criatividade, da experimentação e do engajamento autêntico?
Nós, que tomamos decisões sobre a educação das crianças (e sobre as ações de capacitação nas empresas), devemos tirar o foco do sintoma e colocar em questão um sistema que funciona exterminando o empreendedorismo natural do ser humano.
Sua capacidade de chamar a responsa, pensar com originalidade e seguir o caminho do coração.
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A gente se engaja naturalmente quando sentimos que podemos ser nós mesmos.
Quando somos encorajados a expressar todo nosso potencial.
Quando percebemos que temos espaço para oferecer nossa contribuição única ao mundo.
Quando nos sentimos livres para experimentar nossas ideias sem o medo paralisante de cometer erros.
Então, não precisamos de didática ou estratégias sofisticadas de motivação.
Não precisamos ser arrastados por meio de punições e recompensas.
Nem de notas altas, bônus por desempenho ou festa de fim de ano da firma em hotel cinco estrelas.
Não é?
São todos artifícios gerados nas escolas e empresas para distraírem as pessoas da tristeza ontológica por desistirem de si mesmas.
Não bastam processos de coaching e liderança pagos pela empresa, vale-spa ou escritório boutique, quando o que esperamos do outro é que renuncie àquilo que o faz sentir-se vivo.
As pessoas não se engajam porque nada disso faz sentido. A escola, do jeito que está. O mundo corporativo.
Cada vez mais gente ficando doente.
Humilhação e assédio moral, pânico, depressão, síndrome de Burnout. Ritalina em massa para a molecada.
A escalada de licenças médicas de professores/as abatidos por transtornos psiquiátricos.
Por meio da escolarização e do trabalho alienado, construímos coletivamente um mundo em que pessoas com alma de artista se tornam feirantes. 
Pessoas com alma aventureira passam os dias fechados em escritórios e repartições. Pessoas com alma visionária vendem peças de aparelhos ortodônticos para sobreviver.
Pessoas que atravessam a semana abatidos pelos ecos daquela sensação asfixiante empurrada para algum canto escuro da alma — a sensação de estar desperdiçando a própria vida.
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Às vezes, ao longo do caminho, perdemos o contato com nossos sonhos, talentos e paixões.
Já não sabemos dizer o que queremos da vida, que caminho é capaz de fazer nosso coração transbordar alegria. Olhamos para dentro e, apenas, um imenso vazio. Olhamos para fora e não sabemos mais por onde seguir.
Você já se sentiu assim?
O problema real não é o profissional desmotivado, como se ele tivesse algum defeito, mas todo o contexto: uma estrutura organizacional que exige das pessoas que se desconectem de seu núcleo de vitalidade em nome de metas e objetivos alheios, que não lhes dizem nada.
Mas o mundo mudou. Tenho convicção de que organizações incapazes de identificar a necessidade de se reinventar estão condenadas.
Serão atropeladas por estruturas ágeis e enxutas, que operam a partir de sonhos compartilhados definidos com clareza e que substituem as cadeias de comando e controle por liderança rotativa, processos de tomada de decisão distribuídos em rede, abertura à inovação disruptiva e co-responsabilização pela distribuição de recursos. 
Projetos e parcerias celebrados a partir dos talentos e paixões que cada um traz para a mesa, no lugar de empresas em cabo de guerra com funcionários desmotivados, a fim de convencê-los a dedicar seu tempo e sua energia para que eu atinja meus objetivos (de enriquecimento, de status, de consumo), desempenhando funções que eu mesmo não estou disposto a desempenhar, em troca de um salário de merda, convênio médico e ticket refeição.
Nessa perspectiva, de atuar a partir dos próprios talentos e paixões, nem há necessidade de departamentos de RH, ações de capacitação ou tentativa de solucionar o enigma do engajamento.
Basta a associação horizontal virtuosa de pessoas seguras de estarem vivendo a vida que estão destinadas a viver, dispostas a apoiar os sonhos de crescimento e realização umas das outras.
Em suma: alunos e funcionários não se engajam porque, em meio a um mundo que muda cada vez mais rápido, a educação formal e o mercado de trabalho seguem dependendo de pessoas que se mantenham surdas aos Chamados de suas almas. 
Com a hiperexcitação associada aos apelos irresistíveis da tecnologia, vamos nos tornando seres rarefeitos: sempre apressados, sobrevivendo em contínuo estado de dispersão: perdidos em labirintos de espelhos, gozando relações líquidas, sofrimentos sem nome e abismos sem fundo.
O que nos motiva verdadeiramente não é dinheiro, comodidade ou poder; é a chance de romper por entre os simulacros de felicidade, em meio a coletivos humanos que nos conduzem na direção do imperativo de Nietzsche:
"TORNA-TE QUEM TU ÉS!"