sábado, 27 de agosto de 2016

"A TRISTE GERAÇÃO QUE VIROU ESCRAVA DA PRÓPRIA CARREIRA"

Eu nem sabia que o Estadão possuía uma lista de Blogs próprios (a mais desinformada) e sabe o que é melhor?! Ela é imensa...

Estava lendo as postagens da Advogada e Professora universitária, Ruth Manus, no blog "Retratos e relatos do cotidiano" e achei uma postagens meio antiga (29 de abril de 2015 nem é tão antiga assim, rs), mas que encaixou tão bem no momento da minha vida que gostaria de compartilhar, pois nestes últimos dias conversando com vários colegas da faculdade, amigos da vida, conhecidos recém formados... percebi que encarar o início da vida e escolher qual rumo seguir "era uma nebulosa na qual já não se podia distinguir o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o que era ambição, o que era ganância, o que necessário e o que era vício"

(E a juventude vai escoando entre os dedos.)

Era uma vez uma geração que se achava muito livre.
Tinha pena dos avós, que casaram cedo e nunca viajaram para a Europa.
Tinha pena dos pais, que tiveram que camelar em empreguinhos ingratos e suar muitas camisas para pagar o aluguel, a escola e as viagens em família para pousadas no interior.
Tinha pena de todos os que não falavam inglês fluentemente.
Era uma vez uma geração que crescia quase bilíngue. Depois vinham noções de francês, italiano, espanhol, alemão, mandarim.
Frequentou as melhores escolas.
Entrou nas melhores faculdades.
Passou no processo seletivo dos melhores estágios.
Foram efetivados. Ficaram orgulhosos, com razão.
E veio pós, especialização, mestrado, MBA. Os diplomas foram subindo pelas paredes.
Era uma vez uma geração que aos 20 ganhava o que não precisava. Aos 25 ganhava o que os pais ganharam aos 45. Aos 30 ganhava o que os pais ganharam na vida toda. Aos 35 ganhava o que os pais nunca sonharam ganhar.
Ninguém podia os deter. A experiência crescia diariamente, a carreira era meteórica, a conta bancária estava cada dia mais bonita.
O problema era que o auge estava cada vez mais longe. A meta estava cada vez mais distante. Algo como o burro que persegue a cenoura ou o cão que corre atrás do próprio rabo.
O problema era uma nebulosa na qual já não se podia distinguir o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o que era ambição, o que era ganância, o que necessário e o que era vício.
O dinheiro que estava na conta dava para muitas viagens. Dava para visitar aquele amigo querido que estava em Barcelona. Dava para realizar o sonho de conhecer a Tailândia. Dava para voar bem alto.
Mas, sabe como é, né? Prioridades. Acabavam sempre ficando ao invés de sempre ir.
Essa geração tentava se convencer de que podia comprar saúde em caixinhas. Chegava a acreditar que uma hora de corrida podia mesmo compensar todo o dano que fazia diariamente ao próprio corpo.
Aos 20: ibuprofeno. Aos 25: omeprazol. Aos 30: rivotril. Aos 35: stent.
Uma estranha geração que tomava café para ficar acordada e comprimidos para dormir.
Oscilavam entre o sim e o não. Você dá conta? Sim. Cumpre o prazo? Sim. Chega mais cedo? Sim. Sai mais tarde? Sim. Quer se destacar na equipe? Sim.
Mas para a vida, costumava ser não:
Aos 20 eles não conseguiram estudar para as provas da faculdade porque o estágio demandava muito.
Aos 25 eles não foram morar fora porque havia uma perspectiva muito boa de promoção na empresa.
Aos 30 eles não foram no aniversário de um velho amigo porque ficaram até as 2 da manhã no escritório.
Aos 35 eles não viram o filho andar pela primeira vez. Quando chegavam, ele já tinha dormido, quando saíam ele não tinha acordado.
Às vezes, choravam no carro e, descuidadamente começavam a se perguntar se a vida dos pais e dos avós tinha sido mesmo tão ruim como parecia.
Por um instante, chegavam a pensar que talvez uma casinha pequena, um carro popular dividido entre o casal e férias em um hotel fazenda pudessem fazer algum sentido.
Mas não dava mais tempo. Já eram escravos do câmbio automático, do vinho francês, dos resorts, das imagens, das expectativas da empresa, dos olhares curiosos dos “amigos”.
Era uma vez uma geração que se achava muito livre. Afinal tinha conhecimento, tinha poder, tinha os melhores cargos, tinha dinheiro.
Só não tinha controle do próprio tempo.
Só não via que os dias estavam passando.
Só não percebia que a juventude estava escoando entre os dedos e que os bônus do final do ano não comprariam os anos de volta.
Ruth Manus

Foi aí que percebi que muitas vezes tomamos decisões baseadas no desejo de ser livre, mas na verdade estamos nos tornando escravos de uma vontade de nos tornarmos autossuficientes, independentes e orgulhosos de nós mesmos. Essa vontade nos cega para o que realmente é importante e está se tornando cada vez mais escasso: família, amigos, amor, felicidade...
A carreira é sim algo importante, mas não devia ser nossa prioridade, como gosto sempre de dizer "que trabalhemos para viver, ao invés de viver para trabalhar!". 

reprodução

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

FACULDADE ACABANDO, E AGORA? PARTE 3

Estou definitivamente formada e agora, mais do que nunca, perdida...

Sempre achei que meu sonho mais difícil era entrar na melhor Universidade do Estado (sexta melhor do país, segundo a Folha de São Paulo), mas a verdade é que saber o que fazer ao sair dela é ainda mais difícil...
Tem um mundo de caminhos que posso seguir, mais de 70 segundo a Resolução que rege minha profissão. Mas saber o que eu quero para o resto da vida é que torna tudo amedrontador.
Tá! Tá! Eu sei que sempre posso parar tudo o que estou fazendo e começar de novo, mas o problema é que eu vejo a vida com uma passagem muito curta e tento evitar ao máximo os erros, para que possa aproveitar as coisas legais da vida. 
Também não posso deixar de mencionar que desistir, para mim, é uma das coisas mais difíceis.
Não me preocupo muito com medo de ficar desempregada, porque ao me formar em Farmácia tenho a garantia de que sempre haverá um estabelecimento farmacêutico em cada esquina e muitos deles precisando desesperadamente de um farmacêutico. 

A questão aqui é: o que eu quero para minha vida? Em qual navio eu gostaria de embarcar, mesmo que ao chegar na metade do cruzeiro tenha que descer, pegar um avião e voltar para casa mais cedo?

Não é fácil decidir um caminho, sendo que é ainda mais difícil quando você sente que sua mente precisa desentulhar um pouco da informação, da pressão, da ansiedade que adquiriu ao longo dos últimos seis/sete anos. 

Foi então que tomei uma decisão brilhante (talvez em alguns dias eu me arrependa) e prática: tirarei o resto do ano de férias. Voltarei para a casa dos meus pais, minha pacata cidade natal e tentarei reencontrar aquela garotinha de 17 anos que lutou bravamente por um sonho, talvez ingênua, mas muito mais forte e corajosa que essa adulta que se tornou. 

Durante seis anos, dormi duas horas e meia/ três horas por noite, me descabelei com longos trabalhos, chorei com as incontáveis provas, estraguei meu estômago com café forte e pó de guaraná, engordei e fiquei flácida por não praticar exercícios físicos e comer comidas prontas e/ou industrializadas, ganhei um punhado de fios de cabelo brancos pelo estresse, entre outras inúmeras coisas que fiz ou deixei de fazer para tirar o máximo de proveito do meu sonho.
Confesso que acho que não fiz muitas escolhas inteligentes e que poderia ter feito muito mais durante esses seis anos. Acredito que a Layssa de hoje seria mais empenhada, faltaria menos aulas, participaria de mais projetos da faculdade, faria o tal curso de inglês que vem prorrogando desde que se mudou para a capital e talvez até terminasse aquela inscrição que ficou pela metade para o intercâmbio para o Estados Unidos...

Há seis dias eu ouvi a tão sonhada frase "confiro-lhe o grau de farmacêutica", mas hoje eu só queria ouvir "feliz cinco anos!!" 

"Ser ou não ser, eis a questão." A famosa frase de William Shakespeare cabe como uma luva nas mais variadas etapas da minha vida, principalmente nesta, em que me preparo para decidir o rumo do que pode ser meus próximos 30/40 anos... Aliás, quem somos nós?